segunda-feira, 9 de junho de 2014

07 de setembro de 2013

Carta para alguém do passado




Talvez você ouça falar de mim nesses próximos dias, por conta do que aconteceu ontem. Foi insano! E sei que você não vai ficar feliz de ouvir o quanto mudei. Uma pena. Tenho muito orgulho do que me tornei, do que tenho feito e de como tenho pensado. Me arrisco a dizer que nunca fui tão feliz! Não sou tão assim tão diferente do que você deve se lembrar, mas as pessoas crescem, você sabe. Tanta coisa inimaginável aconteceu nos últimos anos; me vi em lugares e situações a que nunca achei que fosse chegar. Me tornei, em partes, uma pessoa que eu disse que jamais seria. Mas, de outro lado, hoje sou tudo aquilo que sempre quis ser: sou livre! Terei sempre meus arrependimentos e meus erros, mas hoje eles não passam do alicerce que sustentam a mulher que me tornei. A tristeza não merece espaço na minha vida. Hoje olho pra trás e sinto muito por todos os meus erros, mas aprendi que me culpar por eles não vai mudar o que passou. Então me perdoei, e aprendi a viver bem comigo. Eu sou sensacional! Como nunca tinha me encontrado antes? Eu sou uma ótima companhia pra mim mesma. Penso que talvez seria assustador pra você me conhecer, mais uma vez. Eu era só uma criança, e às vezes acho que levo uma vida tão louca! Mas sabe, eu ainda tenho o mesmo coração bobo de antes, que dispara de te ver na rua. Ainda tenho os mesmos sonhos inocentes de antes; ainda sou só uma menina assustada e sem jeito querendo ser amada e feliz. Eu sou livre pelo meu passado e meu presente, mas ainda temo pelo futuro. Todas as certezas que eu um dia tive se esvaíram, mas ainda assim não deixa de ser excitante dar cada passo pra frente sem qualquer garantia de que terei onde pisar. Acho que valeu a pena, afinal. Abri mão da nossa vida de certezas pra descobrir o meu desconhecido, então, que seja feito. Desperdício seria jogar tudo pro alto e viver esperando que volte às minhas mãos. Porque, pra mim, é tudo uma questão de fé. De timing. De pessoa certa, hora certa, maturidade certa. É só uma questão de aceitar que tudo é exatamente como deve ser. O clichê de que "um dia vamos olhar pra trás e rir muito de tudo isso". E o que eu vou fazer enquanto isso? Tudo que eu quiser. Todas as loucuras em que eu puder pensar. Todos os desejos que nascerem em mim. Todas as curiosidades que me atravessarem a mente por um segundo. A gente só vive uma vez, e meu único objetivo de vida, hoje, é fechar os olhos pela última vez em Terra com a certeza de que me realizei. De que me fiz feliz. Meu único objetivo de vida sou eu mesma. E a paz que se espalha dentro de mim toda vez que me realizo não me deixa acreditar que posso estar errada. Talvez eu tenha descoberto o sentido da vida, afinal. Mas você sabe, eu sou responsável; nunca deixei de ser. Sempre me preocupei em cuidar de mim. Diria até que sou lúcida. Até mesmo meu relacionamento com meus pais não poderia estar melhor. Honestidade traz plenitude. Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria aos 14 anos só pra me aplaudir de pé. Um pouco presunçoso, talvez. Mas não se preocupe, você me ajudou muito a crescer! Você é a história mais bonita e mais sincera que eu já tive na vida. Talvez por isso seja tão difícil deixar o vento levar. Ou pelas lembranças. Os ventos, as esquinas são sempre as mesmas. Os cantos escuros das ruas, o muro rabiscado, todas as histórias escritas naquela mesma vila. Volto andando do metrô quase sempre me vendo no uniforme da escola, mais uma vez, torcendo ansiosa pra te ver fazendo o mesmo caminho após o trabalho. E todas as reflexões que faço sobre quem me tornei se projetam em você. E você? Quem é você, hoje? Você ainda come naquele mesmo buffet, no shopping? Ainda compra os mesmos pães de mel? Faz as mesmas promessas secretas, e de repente aparece de cabelo curto? Ainda prefere dirigir pra longe, de noite, pra ficar pensando, disso tenho certeza... Bom falar sobre a vida com você, atual-desconhecido-que-um-dia-foi-toda-a-minha-vida. Deveríamos marcar mais vezes, com uma cerveja, quem sabe. Ou com um daqueles suco de açaí na frutaria. Só não podemos perder contato! Faz bem olhar pra trás e ver o quanto fomos fortes pra chegar até aqui.

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