Era o sexto mês do ano. Fazia frio no interior, e o dia
seguinte era o 12 de junho. Romantismo aflorado, flores e uma viagem sozinhos
para um casebre de madeira num sítio. As preocupações e problemas ficaram na
urbanização, e levamos conosco só o que fosse relaxante. Uma canção
instrumental rolava solta e paciente enquanto decidíamos o que seria da noite.
Seria especial, é claro, simplesmente por estarmos juntos ali. Fondue. Sentamo-nos
em frente à lareira, à luz de seu fogo crepitante e de algumas poucas velas. A
conversa foi toda feita por olhares e sorrisos. Depois de tanto tempo, palavras
não se faziam mais necessárias. Os corações estavam sincronizados. Eu podia
olhar seus olhos e enxergar sua alma. Ver toda a verdade que havia ali. Não
havia só amor. Havia carinho, afeto, preocupação, cuidado, vontade, desejo.
Tudo se misturava naquele beijo, que começou com a calma da música e foi
ficando mais intenso à medida que nossas respirações pesavam. Não era errado,
não era inadequado. Era quente e intenso, era certo. Era amor. Um olhar de
pergunta, um olhar de aprovação, e o frio não existia mais ali. As roupas foram
sumindo, devagar. Sempre devagar. Não há porque ser rápido, “quero te curtir o
máximo possível”. Entre mim e o chão havia um tapete macio, mas entre eu e ele
não havia nada. Só sentimento. Só dois corações e dois corpos que se queriam
desesperadamente, hoje, e amanhã, e amanhã, e amanhã... fechei os olhos e o
senti. Seu corpo se movia ritmado, ao passo da música. Seus olhos fechados, sua
mão na minha, a boca entreaberta numa respiração profunda, e meu corpo em seu
abraço. Era perfeito. Eu já não sabia onde eu começava ou ele terminava.
Estávamos unidos, estávamos completos. Num suspiro, nossos corpos não eram mais
um só. Deitou-se de lado, acarinhou-me e disse que me amava. De repente eu
estava em seus braços, como se fosse uma noite de núpcias. “Vem cá, me deixa te
levar pro quarto”, seguido de um beijo na testa. Deitou-me na cama
vagarosamente, enquanto seu corpo ia também descendo sobre o meu. Eu podia
sentir seu cheiro, seu gosto, sua pele quente; eu podia senti-lo dentro de mim.
Era amor. Acima de tudo, não era desejo, era amor. Pra quê a pressa? Os corpos
se moviam devagar, ao mesmo tempo, no mesmo ritmo, entre gemidos, declarações e
respirações pesadas. Parecia surreal. Estávamos em êxtase. Nirvana. Os corpos
desfaleceram, cansados, mas não satisfeitos. Nunca satisfeitos. Mas felizes. Almas
em paz. Ali, houve a certeza de que sempre teríamos um ao outro. De que
pertencíamos um ao outro, em alma, corpo e coração, ainda que nos
estabelecessem uma distância física. Uma noite, e toda uma vida mudou. Um amor,
e duas pessoas enfim se sentiram completas. Eram as pessoas certas um para o
outro. Dariam a vida um pelo outro. “Esperei por você durante muito tempo pra
te deixar ir embora assim.”.
E então eu acordei.