Há quanto tempo não sentava com um lápis na mão e deixava
todos os sentimentos fluírem sobre um papel em branco... há quanto tempo não
ignorava tudo, e deixava cada desejo ou perturbação tomar conta de mim,
descontrolando ainda mais minha vida desgovernada. Aliás, há quanto tempo eu
não fazia muita coisa.
Viver com uma pessoa (ou tentar, pelo menos) é se adequar a
ela; se moldar de maneira a fazê-la o mais feliz possível. Mas nem todos se
contentam só com isso. Há aqueles que vão demandar sua atenção, paciência, suas
noites de sono, suas lágrimas, sua vida, seu sangue. E não para até que você
tenha dado tudo. Na verdade, nem assim. Nem quando você perde sua sanidade. Mas
eu me sinto presa. É como se eu estivesse acorrentada num poço fundo, e a cada
vez que tento escalar e fugir e ser feliz à luz do sol, sinto que a corrente é
curta demais; eu nunca posso ir muito longe. E pouco a pouco volto a cair,
afundar de novo, cada vez mais. E o desespero nunca é menor só porque já estive
lá antes. É cada vez maior e mais intenso. Porque, a cada vez, é uma ferida
nova sobre tantas outras que já estiveram abertas. Às vezes tenho vontade de
morrer e penso friamente nisso. Soa melhor do que estar presa pra sempre. Já
não espero que alguém apareça pra me salvar, não mais. É crueldade achar que
deveriam afundar comigo. Me sinto perecendo, diminuindo, murchando. Meu choro
sempre foi fácil, mas hoje parece contínuo. Não sinto mais orgulho de mim
mesma; quero me esconder de mim. Shame on you, Bianca! Logo você, que já viveu
tanta coisa e nunca desistiu, que nunca perdeu a fé e a esperança, que nunca
deixou que ditassem sua vida. Aonde eu fui parar? Eu não era assim. Eu me quero
de volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário